A Cultura do Cancelamento

O movimento surgiu há alguns anos, como uma forma de chamar a atenção para causas como justiça social e preservação ambiental, com o objetivo de dar voz/ espaço para grupos oprimidos e assim forçar ações políticas de marcas ou figuras públicas em favor desses grupos. 

    Como funciona da prática? Um usuário de mídias sociais presencia um ato que considera errado, registra em vídeo ou foto e posta em sua conta. Nessa postagem é exposto o erro, e a marca relacionada a ele (empresa/pessoa), além de outras figuras públicas para ampliar o alcance da mensagem. É comum que, em questão de horas, o post tenha sido replicado milhares de vezes.

    A cascata de menções a uma empresa costuma precipitar atitudes sumárias para estancar o desgaste de imagem, como cancelar patrocínios de outras empresas, perder contratos e clientes, e em alguns casos até cenas de vandalismo. A pessoa/empresa exposta perde o direito de defesa, e como cancelada arca com todos os prejuízos da exposição. O cancelador é visto como um herói, em defesa do bem e dos bons costumes. Enquanto quem ataca é quase santificado, o atacado é demonizado. 

    São os extremos. É a nossa vida online nos últimos anos. Todos os dias alguém é cancelado. Parece ser algo pequeno para quem não participa ativamente das redes, mas reflete não apenas nossas mídias sociais. É um reflexo da nossa sociedade. Tudo ao extremo. Algo como: se eu não concordo contigo você merece morrer. Pesado né?

    Esquecemos que todos erramos e acertamos, e estamos aqui aprendendo. Não estou passando pano para ninguém (gíria que significa acobertando a pessoa). Eu sempre gostei de Big Brother Brasil (BBB), desde a primeira edição.Nunca fui de assistir Pay Per View, ou de ver todos os programas, mas sempre acompanho o que está acontecendo. Seja por notícias, seja pelo Twitter…

    Aliás o Twitter acredito ser o Pai da cultura de Cancelamento, todo dia estão cancelando alguém. Não estou falando de trollagem/ piadas típicas de internet, ou de discussões de opiniões nas redes. O Cancelamento é um ataque à reputação, é uma exposição das fraquezas, um apagamento das virtudes. Ele ameaça empregos, ameaça vidas, e principalmente, ameaça nossa SAÚDE MENTAL.  

    O cancelamento afeta diretamente os “cancelados” ,e indiretamente os “não cancelados” que estão sempre com medo de serem os próximos, seja por não apoiarem cancelamentos ou por qualquer deslize. Um exemplo não tão recente foi o da blogueira Gabriela Pugliesi. Uma influenciadora digital que ganha dinheiro através da Internet, posta sobre estilo de vida, sobre exercícios físicos entre outras coisas. Logo no início da Quarentena em 2020, ele promoveu uma festa em sua casa, e publicou em suas mídias sociais. 

    Pausa para um comentário: eu não acho correto o que ela fez - promover encontros em momento de tantas incertezas, não acho correto na posição de influenciadora (as pessoas muitas vezes “copiam” o estilo de vida dela) divulgar que está em uma festa, sendo que naquele momento eram proibidas as reuniões, tampouco entendo o porquê da fama dela. Mas enfim, esse cancelamento causou um prejuízo milionário, devido a perda de muitos contratos de publicidade.

    Com a repercussão e o poder dado aos Canceladores, eles esquecem que também podem errar. Estão tão convictos de que precisam defender as pessoas ou de que apenas os outros erram, que ficam cegos aos próprios defeitos. Voltando ao BBB, essa edição está, na minha avaliação, o retrato dessas polaridades da internet, o bem contra o mal. 

    Um grupo, dentro do programa, decide o que é aceitável e o que não é. E a partir dessa decisão eles escolhem como tratar os demais participantes. Quem faz parte do grupo não erra (contém ironia), os pobres mortais, que caíram na mesma edição que eles, cometem um erro atrás do outro e precisam ser eliminados. Não apenas eliminados, mas massacrados, humilhados, destruídos…

    Isso vai muito além do jogo, não basta vencer, é preciso extinguir o inimigo, deixar ele sem voz. E assim foi o massacre do menino Lucas. 

    Lucas foi escolhido como vilão pelo grupo mencionado, e foi invalidado em todos os sentidos, todos se sentiam no direito de atacá-lo, tudo o que ele fazia era errado. Dia a dia foi sendo destruído, não apenas como jogador, como pessoa. Foi algo tão pesado que ele desistiu do programa, desistiu do prêmio de 1,5milhão de reais. Ele não sabia, na hora da decisão, que aqui fora ele era amado por muitos, não sabia que provavelmente ganhará o valor do prêmio ou mais com o destaque que recebeu na mídia. Ele desistiu por não aguentar mais. Desistiu do que seria uma oportunidade gigantesca na vida dele. Desistiu dele mesmo. Fizeram ele acreditar que ele não valia a pena. Ele errou? Sim, muitas vezes. Ele merecia o que foi feito com ele? Não. Ninguém mereceria. 

    A idéia do texto é deixar a reflexão sobre essa prática tão difundida e tão prejudicial. Somos todos passíveis de errar, todos os dias. Precisamos falar mais sobre compaixão, sobre amor, sobre perdão. Ninguém é totalmente bom ou ruim. PENSE, antes de postar ou de apoiar manifestações de ódio. O “cancelado" pode passar da posição de infrator para a posição de vítima, assim como o “cancelador" pode facilmente passar da posição de justiceiro para de criminoso. 

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